PALAVRA DO PRESIDENTE
Os dados físicos que definem o Brasil são superlativos: 8ª maior economia; 5º maior território e população do mundo; 3ª maior fronteira; recursos naturais abundantes.
Nosso país tem no seu destino papel relevante e crescente na tessitura das relações internacionais. Membro do BRICS, na área da defesa, se constitui na 2ª maior potência do hemisfério; tem a maior costa banhada pelo Atlântico Sul e dos três ecossistemas do subcontinente, a exceção do andino, está presente nos outros dois, o amazônico e o platino.
Portanto, defesa e segurança nacionais não são escolhas, são destino. E para um país-continente é obrigatório tê-las de forma compatível com a necessidade de dispor de recursos de projeção e, se necessário, dissuasão compatíveis com o seu presente e o seu futuro.
Ocorre que, por razões históricas, sociais e econômicas inexiste compatibilidade entre a realidade do país e a sua Defesa e Segurança. Ao contrário de outros países, não há no Brasil uma cultura de Defesa.
Historicamente, nos situamos na mais pacífica das regiões, em termos de conflitos interestatais, sendo que o último conflito em que nos envolvemos dista 150 anos do presente, a Guerra do Paraguai. Socialmente, nossas prioridades prementes são desigualdade, saúde, educação, segurança pública e emprego. E, economicamente, nossa situação fiscal precária nos impõe severas restrições à expansão de gastos, sobretudo com investimentos.
Disso resulta um distanciamento entre prioridades da política e a defesa e a segurança nacional, mas também em termos de preocupações, debate, interesse e compreensão das nossas elites sociais, econômicas e políticas para com o tema.
A nossa base industrial de Defesa, complexo defesa e segurança pública, responde por 3,4% do nosso PIB. Considerando, contudo, que o percentual da defesa, que é a principal responsável por produtos de alta e média-alta tecnologia é muito menor, da ordem de 0,5%, sendo esteio e impulsora de um projeto de desenvolvimento nacional e tecnológico autônomo, essencial para garantirmos nossa independência e soberania, esse alheamento das nossas elites é disfuncional.
Think tank são ativos indispensáveis para nações, empresas e sociedades, dado o intenso processo de globalização e mudança tecnológica, que nos põe face a crises e transformações disruptivas, desigualdades crescentes, retorno dos nacionalismos, guerra comercial, estagnação e turbulências econômicas, 4ª revolução industrial, ameaças não-tradicionais, mudanças climáticas, migrações em massa etc.
Pelo fato de que são “usinas de conhecimento e produção de soluções”, com agilidade e flexibilidade para articular clusters de conhecimento e experiências diversas, indisponíveis isoladamente, associá-las de modo a dar suporte, rumo e aconselhamento a agentes públicos, decisores, empresas e a países, são ativos indispensáveis.
Na Europa, Estados Unidos e Ásia são comuns arranjos, sob forma de think tank, que articulam junto ao empresariado, academia e forças armadas, além de políticos e integrantes do setor público.
Essa associação é funcional e benéfica a todas as partes, em especial aos policy makers, instituições, parlamento, executivo, empresas e sociedade, por prover um debate plural e informado sobre as questões diversas, entre os principais atores estratégicos envolvidos na sua modelagem e desenvolvimento.
Propiciam também os think tank uma troca de informações num ambiente de independência intelectual e de mútuo aproveitamento das diversas capacidades, experiências e visões de stakeholders do setor público e privado, no âmbito nacional e internacional, propondo e mesmo antecipando soluções e encaminhando-as aos centros de decisão.
O Centro está sendo apoiado pelo Instituto de Relações Exteriores e Comercio Exterior, o primeiro think tank de São Paulo que trata de relações internacionais e comércio exterior. Além dessas áreas, trata igualmente de defesa, meio ambiente e direitos humanos.
A criação do Centro de Defesa e Segurança Nacional vai preencher o vazio de discussões, na sociedade civil, sobre a importância da Defesa na definição do lugar do Brasil no mundo”, diz o presidente do CEDESEN, embaixador Rubens Barbosa.